Liliana Geraldes, uma autora multifacetada e defensora apaixonada do meio ambiente, revela numa entrevista exclusiva como a sua jornada pessoal influenciou a sua escrita e ativismo. Para Geraldes, a inspiração para o seu último livro, “Clara e a Ilha do Plástico”, surgiu após uma viagem marcante a Bali, onde testemunhou o impacto devastador do plástico nas praias. Além da sua incursão literária, Geraldes está envolvida num novo projeto eco-responsável que a levou de volta à escola para se aprofundar em cosmética e botânica, refletindo o seu compromisso em agir em prol do planeta.
O seu papel como educadora é destacado nas suas visitas às escolas, onde partilha não apenas histórias, mas também lições práticas sobre sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Assim, Liliana Geraldes não é apenas uma autora talentosa, mas uma força motriz de inspiração e mudança, tanto nas páginas dos seus livros quanto na vida real.
Como a música influenciou a sua escrita? Sabemos que é professora de música. Como é que essa paixão pela música se reflete nas suas histórias?
Apesar da minha formação como professora de música, a verdade é que a música não teve uma influência direta na minha escrita. Mas a escrita teve influência direta enquanto compositora de canções infantis. Em 2014 tive a oportunidade de escrever e realizar um musical infantil, onde a temática era a sustentabilidade, a amizade e a inclusão. Temas que faço questão de trabalhar com os meus alunos.
Quando e como a escrita se tornou importante na sua vida? Houve algum momento específico que a inspirou a começar a escrever?
Desde a minha infância, a escrita tem sido uma parte intrínseca da minha vida. Iniciei-me na escrita por volta dos 7, 8 anos, principalmente através de poesia, influenciada pela minha avó paterna, uma avida leitora e uma grande contadora de histórias. Aos 9 anos, ganhei um concurso de poesia com o tema “liberdade”, marcando o início de uma jornada que se tornaria crucial na expressão dos meus pensamentos e sentimentos.
Quando a ecologia entrou na sua vida e porquê? O que a motivou a tornar-se uma ativista contra o uso excessivo de plásticos?
A ecologia entrou na minha vida após a maternidade, quando percebi que a minha filha, Clara, não teria o privilégio de crescer num ambiente tão verde quanto o meu na infância. Criada numa aldeia encantadora no Minho, tive um contacto constante com a natureza, animais e o ecossistema.
No entanto, as preocupações ambientais intensificaram-se durante uma viagem a Bali, onde testemunhei o impacto avassalador do plástico nas praias. Essa experiência alterou irrevogavelmente a minha perspetiva e impulsionou-me a tornar-me ativista em 2017, através do meu blog a mamã sabe poupar.
Como foi explicar às crianças uma realidade tão alarmante como a existência da Ilha de Plástico no Pacífico? Como abordou esse tema complexo de forma acessível e sensível no seu livro “Clara e a Ilha do Plástico”?
A explicação da alarmante realidade da Ilha de Plástico às crianças foi uma tarefa delicada. Optei por uma abordagem sensível, utilizando a protagonista Clara como uma voz que desperta empatia. O livro “Clara e a Ilha do Plástico” tornou-se um manual de educação ambiental, mostrando como pequenos gestos podem ter um grande impacto e incentivando a reflexão sobre práticas sustentáveis.
Qual mensagem pretende transmitir através do seu livro? Como espera que as crianças e os leitores em geral se sintam após lerem a história de Clara?
A mensagem fundamental do livro é que pequenos gestos fazem a diferença. Ao mostrar como práticas sustentáveis podem ser alcançadas com ações simples, pretendo inspirar os leitores a perceberem que todos têm o poder de contribuir para um ambiente mais sustentável. Quero que as crianças e os leitores sintam-se capacitados a fazer mudanças positivas.
“Mares de Inspiração” é o concurso literário do Club LiteraturArte. Como vê a literatura como uma forma de sensibilizar para a preservação dos oceanos?
A literatura, através de iniciativas como “Mares de Inspiração”, desempenha um papel vital na sensibilização. Ao contar histórias que destacam os desafios enfrentados pelos oceanos, a escrita cria uma ligação emocional, inspirando ações que contribuem para a preservação marinha.
Como a literatura pode ajudar a salvar os oceanos? Quais são os superpoderes da escrita quando se trata de proteger o nosso planeta?
Os superpoderes da escrita na preservação dos oceanos residem na capacidade de influenciar perspetivas e comportamentos. Ao destacar a beleza e fragilidade dos oceanos, a literatura motiva os leitores a adotarem práticas mais sustentáveis, gerando um impacto positivo na proteção do nosso planeta.
Que conselhos daria a jovens leitores que queiram ser escritores e, ao mesmo tempo, proteger o planeta? Como podem usar a sua criatividade para fazer a diferença?
Aos jovens escritores, diria para abraçarem a autenticidade. Utilizem a criatividade como uma ferramenta para amplificar questões ambientais. Ao incorporar mensagens positivas e soluções sustentáveis nas vossas histórias, podem inspirar outros a agir em prol do planeta.
Qual é o próximo projeto literário que está a planear? Podemos esperar mais histórias inspiradoras relacionadas com o ambiente?
Atualmente, estou a trabalhar num projeto dedicado à cosmética e plantas medicinais. Durante a pandemia criei uma empresa de cosmética solida, chamada CALENDULINA. Para mim não basta passar a mensagem é preciso agir. Na verdade, nunca pensei que seria este um dos grandes projetos da minha vida. Em 2019 voltei a estudar, mas desta vez no Instituto Europeu de Dermocosmetica (Barcelona) e em 2021 fiz uma Pós Graduação em Fitoterapia e Botânica (Barcelona). Posso dizer que sou muito feliz com este projeto, foi uma longa caminhada, desde voltar a estudar e ter de aprender tudo sobre certificação de cosmética. No entanto, continuo a fazer workshops em escolas (sensibilização ambiental), workshops de cosmética e a dar aulas de música.
Como podemos todos contribuir para a preservação dos oceanos? Quais são as pequenas ações que fazem a diferença?
Pequenas ações coletivas, como reduzir o uso de plásticos descartáveis e participar em iniciativas de limpeza costeira, têm um impacto significativo. A educação ambiental é crucial, capacitando comunidades para agirem em conjunto na preservação dos oceanos.