Num mergulho cativante pelo imaginário infantil, Álvaro revela sua trajetória única como escritor, inicialmente destinado aos adultos, até descobrir, ao escrever para sua filha, uma paixão que lhe rendeu prêmios e uma legião de leitores juvenis. Com uma habilidade notável em transformar temas complexos em narrativas acessíveis, o autor compartilha seu segredo para a criatividade desenfreada e desvenda o processo misterioso que o leva a criar mundos que fascinam não apenas as crianças, mas também os pais e educadores.
Nesta entrevista, Álvaro não apenas revela o fascinante universo por trás de suas histórias, mas também deixa uma mensagem calorosa aos jovens leitores e aspirantes a escritores, enfatizando a importância mágica da leitura.
Álvaro, como se deu conta de que queria escrever para crianças? O que mais o atrai nesse público?
No princípio, só queria escrever para adultos. E foi o que fiz. Só comecei a escrever para a minha filha, quando ela tinha seis anos, e descobri essa vocação, pois todos os meus originais de livros para crianças ganharam prémios. Nunca mais deixei de escrever para crianças e jovens. Quando a minha filha era adolescente, escrevi uma coleção de aventuras de jovens que teve milhões de leitores e foi uma série de televisão. Chamava-se «Triângulo Jota». Os leitores dessa coleção têm agora cerca de 40 anos e alguns já têm filhos que também lêem outros meus livros.
O que mais me atrai nos leitores jovens é a curiosidade e o entusiasmo com que lêem e vivem as histórias que lhes envio.
Venceu vários prémios ao longo da sua carreira. Como se sente ao ser reconhecido desta forma pela sua escrita para crianças?
O reconhecimento é importante, para nos estimular e recompensar pelo trabalho, dá-nos alento, são uma compensação para os sacrifícios que a escrita exige.
As suas histórias são repletas de criatividade. Como consegue ter tantas ideias para os seus livros? Qual é o seu segredo?
Se tivesse um segredo, contava-o. Mas não existe. Acontece que inventar é em mim uma função natural. Escrevo como respiro, naturalmente. Por isso, estou sempre em estado de inventar, de criar. Se não o fizer, sinto-me desconfortável. Logo, para mim é fácil e, sobretudo, natural.
Muitos dos seus livros abordam temas complexos como a amizade e a família. Como consegue tornar esses temas acessíveis e interessantes para as crianças?
A literatura que faço para os mais novos trata qualquer tema que faça parte da vida das pessoas, como esses, e outros. Simplesmente, há alguns temas que pedem tratamento mais delicado e cuidadosos. Mas não tenho temas tabus na minha escrita para os mais novos. O que eles encontram na sua vida, também encontram nos meus livros.
Sabemos que é um autor muito apreciado pelos pais e educadores. Como vê o papel da literatura infantil na educação das crianças?
Nos tempos que correm, ler é um pilar fundamental da educação e da formação de qualquer jovem, mais importante do que nunca. Além de lhes proporcionar a alegria de uma outra vida, dá-lhes grandes competências, que serão muito úteis na sua vida futura, e ajuda-os a compreender o mundo em que vivem e a inserirem-se nele.
Cada um dos seus livros tem a sua própria mensagem e lição. Como escolhe os temas e os tópicos para cada história?
Procuro sempre criar histórias que prendam o leitor e o façam mergulhar com prazer nessas histórias. Essa é a primeira regra, criar um clima, capturar o leitor, mas tento também que a história atravesse ou exponha aspetos importantes da vida.
Pode partilhar algumas curiosidades sobre o processo de escrita dos seus livros? Como começa a criar uma nova história?
À medida que as ideias surgem, aponto-as num caderno e só começo a escrever a história no computador quando tenho um caderno cheio de ideias uma estrutura feita. Não posso dizer mais sobre esta parte do processo, pois ela é misteriosa. Segue-se outra fase do trabalho, que é das descrições e dos diálogos, que é uma fase muito trabalhosa, para mim, pois precisa de muitas reescritas e revisões. Escrever é essencialmente reescrever.
Como a pedagogia e a psicologia entram na equação quando escreve para crianças? Há alguma abordagem específica que segue?
Há muitos livros para crianças que têm um cariz pedagógico: ensinam coisas, da história ás boas maneiras. Mas isso não acontece com os meus livros. Penso que é um desperdício usar a literatura para ensinar, embora aprender e ensinar sejam coisas importantes. A literatura tem uma função mágica e imaginária e é apenas nessa função que eu a uso.
Já recebeu algum feedback especial de leitores jovens que tenha tocado o seu coração? Alguma história ou experiência que queira partilhar?
Tive sempre a sorte de ter muitos leitores. É isso que faz com que eu escreva sem descanso há mais de quarenta anos. Muitos me escrevem, outros me procuram e querem conhecer pessoalmente. Recebi muitos em casa e fiz amizades duradouras. Estou sempre disponível para eles. Para mim, não há nada mais importante do que os meu leitores. Sem eles, sem a sua leitura, o que seria dos meus livros? Nada. Um livro é um conjunto de palavras impressas, de símbolos mortos, mas chega o leitor e abre o livro e aquelas palavras animam-se e ganham vida. Graças a eles.
Para os jovens escritores que sonham em seguir os seus passos, que conselho lhes daria para começarem a escrever para crianças?
Já me fizeram esta pergunta mais vezes, Da última vez, respondi mais ou menos assim: primeiro é preciso ler. Aliás, ler e escrever não são coisas diferentes, mas as duas partes da mesma coisa.
Depois, há que tratar de arranjar um gato. Tê-lo por perto ajuda muito. Finalmente, pode-se experimentar a escrita e aprender com ela. Não há outro professor, não há outra escola. Aprende-se a escrever escrevendo. Mas convém ter sempre presente que escrever é um trabalho duro que exige talento, naturalmente, mas também perseverança, paciência e grande capacidade de trabalho
Uma mensagem para os leitores!
Queridos leitores e amigos. Parabéns por serem tão bons leitores e se interessarem por livros e escritores. Nunca desistam, por favor, nem quando crescerem e acharem que há coisa mais importantes para fazer. Claro que há coisas importantes para fazer, mas a leitura é uma delas. Ler, além do prazer e da alegria que causa, também faz muito por cada um de vós.